NUM MAR DE RECORDAÇÕES
Sentei-me descalço na areia da minha praia,
Memória dum tempo remoto,
Põr de sol, beijos e mergulhos,
Mulata que povoa meus sonhos,
Tempo que se esfuma,
Verdade que avança,
É a minha vida, minha poesia.
A praia é a mesma, o sol também,
Apenas as ondas são outras,
Em vez da minha mulata,
Vejo ao longe um mastro de navio
Que segue a sua rota,
Enquanto eu me acho perdido,
Na minha praia deserta.
O mar está agitado, as ondas crescem,
As gaivotas bicam peixes,
Pescadores vão nas canoas,
Os poços de petróleo ardem,
As areias são agora pretas,
O passado foi amordaçado,
A vida é mecânica e automática.
Quanto mais tempo passa,
Mais a verdade se sabe,
Manda quem pode,
Obedece o pobre,
A terra virou inferno,
O vulcão vai eclodir,
Nada vai resistir.
Ruy Serrano,
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