Pensamentos ermos
A noite acode nua…
Sorvendo a minha alma
Quase com uma carícia crua…
Os meus olhos doentes
Gritam sem rumo
E sem tempo…
Enrugados vertem
Ecos de lágrimas peregrinas
E colhem trevas frias.
Os meus lábios curvos
Gesticulam palavras mudas
E a minha boca suave e trémula
Vai mastigando pensamentos cerrados
As sílabas branqueiam
E a voz sufoca quieta e sozinha
Nesta imensidão de tempo.
Na horizontal os meus pulmões
Não aceleram
Nem respondem
O ar foge-me…lento e disperso.
Apenas respiro um profundo cansaço
E escuto o tempo a decair-me…
A minha alma opaca e embargada
Sente o travo amargo desta nobre solidão.
Sofro as inquietações da madrugada
Sem cor e sem formas…
Na espessura da noite
As minhas mãos vazias
Escutam somente
Os ruídos vagos do orvalho.
O corpo lânguido arrefece
As artérias lassas cerram
E silenciam cada paixão rasgada.
Tudo gela em meu redor…
Adormeço moída de insónias
Pálida e estática
Com a dor que carrego no meu peito...
Tristemente afago o meu choro com melopeia
E vou escrevendo este meu breve fado…
Telma Estêvão
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