No marulhar do Tejo
(A Amália Rodrigues)
Procurando na arca sábia do tesouro
Encontraste quanta fama tu quiseste,
Os poetas te escreveram versos de ouro
Que foram as tuas flores silvestres.
No marulhar do Tejo ouvi um dia
Sobre o eco do piar duma gaivota
A voz do fado triste, em agonia,
Que se prendia, terno, a uma frota.
Aquela voz, que um marujo enfeitiçava
prendeu e enlaçou-lhe o coração.
Era d'alguém que o mundo encantava,
Foi-lhe dada sob a forma de condão.
Mensageira da saudade e nostalgia
musa dos encantos mais risonhos
Pregão de varina que anuncia.
A voz que embalou a voz dos sonhos.
Na calada do silêncio tu partiste
N' agonia da guitarra e da saudade
No meu peito escreveste um fado triste
Levando o meu sonho pr'a eternidade.
É no ponto mais alto de Lisboa
Que vagueia a tua voz como um duende
Em Alcântara o teu fado ainda ecoa
Em Alfama cantarás eternamente.
Manuel Manços
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