sexta-feira, 26 de julho de 2013

AVÓS!

No tempo em que os animais
falavam, havia avós!
Hoje também há avós,
mas não são iguais
aos do tempo
em que os animais
falavam; são diferentes,
porque o tempo
não é o mesmo,
é diferente.

O avô, a avó, os avós
eram uma espécie,
sei lá,
de coisa boa,
de coisa muito boa
que se tinha sempre à mão;
um sorriso, um afago,
um chocolate, um
toma lá, esconde,
e não digas à tua mãe que te dei isto.

A gente, nós, os pequeninos
achávamos que os avós
eram sempre velhos,
que foram sempre velhos,
que nasceram velhos
e que não envelheciam,
até que um dia a mãe dizia:
a avó morreu,
e nós, os pequeninos
não sabíamos bem
o que era morrer
e então víamos a casa cheia de gente,
gente na casa da avó
que nunca víramos
e sentíamos que a avó
já não era nossa,
já não era só nossa
e aquela gente que nos passava
a mão na cabeça
e dizia, “que menino bonito”
era um dizer diferente
do “menino mais bonito do mundo”
que nos dizia a nossa avó.

A mãe para nos consolar
dizia que a avó tinha ido para o céu,
e nós, os pequeninos
que não sabíamos
o que era o céu,
mas sabíamos que era uma coisa boa,
olhávamos para o céu,
e não percebíamos
porque a avó fora para uma coisa boa,
quando a melhor coisa do mundo
estava aqui; eu!

Até que um dia
partia o avô
e nesse dia
ficávamos a um canto,
olhando o céu
sem perceber nada das coisas;
das coisas boas da vida.

A partir desse dia
deixávamos de ser meninos!

Angelino Santos Silva
“homenagem aos avós”
 

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